sábado, 10 de janeiro de 2015

15. Miragem



Miragem

I

Sem ilusão de nada
Nem miragem no horizonte da estrada
Sigo em viagem
E as curvas do caminho
Faço sozinho até virarem pó
Estes meus nós

Andando rente às águas
Que ainda correm com a força que não escolhem
Pois, correm léguas
E o vento não dá trégua
No enfrentamento do silêncio
Na passagem à estiagem

No verde da pastagem
Em que corre a morte,
Sem sorte nem paz
Só o tempo traz a dimensão da imagem
Que se diz verdade quando é ilusão:
Adeus poema.

II

Recobrei minha consciência, tomei a vacina da minha doença
A apreensão da realidade só se realiza pela fantasia
O que se chama de modo de vida,
O que se chama de visão de mundo
São ecos do escuro a brilhar na face da Terra
Nos colocando em contato com o espírito das eras

Não anunciarei o apocalipse nem o eclipse solar
Tampouco me presto a esperar que a humanidade colapse
Sob a hecatombe de seu vasto arsenal nuclear
E mesmo o veneno arsênico pretendo não o tomar, assim,
Desautorizando os tentáculos da sociedade do espetáculo
A tentar me cooptar.

O futuro, que é um espaço vazio na linha do tempo,
Um esforço teórico sobre um momento fictício,
Tempo que está contado desde o seu início,
Todos estaremos mortos quando tudo isto
A que chamamos cotidiano não for mais possível,
É um fato dado à nossa escolha
Não deixará de sê-lo mesmo que um de nós morra

Censura, alarme, controle,
O que você escolhe?

FIAT LUX!

III

Sem as burguesas para o meu deleite
Sem as despesas, para o meu acalanto
Sem minhas vestes e outros tantos enfeites
Ausentes os testes e os tantos contratos

Distante dos prantos, dos pratos vazios
Distante da prata, silêncio de ouro
Nem mesmo relógios, momento sem fim
Desprendeu-se de mim o juízo do outrora

Pelo peso que tem, a bagagem ficou
N’algum lugar do passado, esmagada, enfim
De mãos vazias, presentes e gratas
Já ausente meu couro, posto em carne viva

Adentro a casa do senhor do aguadouro
E no espelho d’água, em que até então não me via
Me vejo refletido
E, do futuro, eu digo adeus.

Muito além de palavras, pra ser verdade
Há uma longa viagem

IV

Ouça o som do silêncio
Esqueça o som da saudade
Sinta o som do sereno
Esqueça o som da cidade
Sonhe o sonho do são
Verse na sua versão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário